Rodrigo Mitre
O que Tarsila do Amaral e Anita Malfatti têm em comum, além da profissão e do extremo talento artístico? Elas são consideradas mulheres à frente de seu tempo, que quebraram barreiras e entraram para a história, consagradas pela atuação importante no cenário artístico brasileiro.
Elas optaram por seguir carreira profissional dedicada às artes visuais em uma época em que mulheres eram instruídas a serem donas de casa, servindo aos maridos. Expressaram em suas telas uma visão de mundo e acontecimentos da época, sendo que Anita teve sua arte atacada e sofreu com a resistência dos críticos da época.
Outras mulheres também foram imortalizadas pela história da arte. Tomie Ohtake, Djanira da Motta e Silva e Lygia Pape ganharam espaço em períodos em que elas não tinham voz, mas superaram preconceitos, quebraram paradigmas e deram notoriedade a uma parcela que, até então, era invisível, tornando-se referências.
Atualmente, o Museu de Arte de São Paulo (Masp) recebe a exposição História das Mulheres, com obras de artistas femininas dos séculos 1 ao 19. A mostra tem curadoria de Julia Bryan-Wilson, Lilia Schwarcz e Mariana Leme, com destaque para o trabalho de artistas silenciadas pela história da arte. A mostra foge do tradicional, expondo objetos como peças de tecido.
Histórias de sucesso sobrevivem ao tempo e inspiram novas mulheres, artistas ou não, que encontram nessas pioneiras força para ir adiante na busca de um sonho: serem reconhecidas pelo trabalho e competência.
A atual exposição da Galeria Periscópio, “Um erro inesperado aconteceu”, que fica até dia 7 e é aberta ao público, tem curadoria de Nydia Negromonte e Marcelo Drummond e trabalha diversidade de gêneros artísticos. Com obras de 28 artistas, sendo 15 mulheres, a formação do grupo foi um movimento natural, com obras sendo selecionadas pelo que são e ligação com eixo central da curadoria. O resultado é muito interessante e deixa claro o nível atual da produção feminina na arte contemporânea. O número de mulheres produzindo e expondo sua arte cresce e, ao mesmo tempo, elas lutam para ampliar esse mercado.
É de extrema felicidade acompanhar o caminho delas na conquista do próprio espaço. Mesmo com tantos obstáculos e preconceitos, as mulheres demonstram sua grandeza e força de vontade em mudar a realidade ao abrirem novas páginas na história, com obras de grande qualidade.
Diretor da Periscópio Galeria de Arte Contemporânea